"(...)As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se. Naqueles momentos em que alguem diz uma coisa, que nunca ouvimos, mas reconhecemos não sei de onde. E em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde não tinhamos conseguido voltar. O coraçao sente-se. A alma pressente-se. O coração anda aos saltos dentro do peito, a soluçar como um doido, tao óbvio que chega a chatear. Mas a alma é uma rocha branca onde estão riscados os sinais indeleveis da nossa existência. Gémea nao é igual. É parecida. Nao é um espelho. É uma janela. Nao é um reflexo. É uma refracção. (...) O desejo de encontrar uma alma gemea nao é o desejo de reafirmarmos a unicidade da nossa existência através de outro que é igual a nós. É precisamente o contrário. É poder descansar dessa demanda. No fundo, todos nós duvidamos que tenhamos uma alma. Senão não falávamos tanto dela. Uma alma gémea é a prova que não estamos sozinhos. (...) O estado normal de duas almas é o silêncio. Nao é o "não ser preciso falar" - é outra foma de falar, que consiste numa alma descansar na outra. Nao é a paz dos amantes nem a cumplicidade muda dos amigos. Nao precisa de amor nem de amizade para se entender. As almas acharam-se. Não se esforçaram. Estão. E essa é a maior paz do mundo. Como é que um ninho pode ser ninho doutro ninho? Duas almas gémeas podem ser. Como é que se reconhece a alma gémea? No abraço. (...) Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alivio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento. A sensação e de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perderamos desde a nascenca. (...) As almas gémeas revelam-se uma à outra. Não são iguais. Mas revelam-se de forma igual. Como se tivesse surgido, de repente, uma lingua que só os dois conseguissem falar. Toda a angustia do eu se dissipa. É-se inteira e naturalmente aceite. Sem perguntas. Sem condições. Sem promessas. E mergulha-se no outro como se já não fosse preciso existirmos. MEC
domingo, 27 de janeiro de 2008
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1 comentário:
LIndo este texto do MEC!
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